segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Dependemos de você

Câmbio, alguém na escuta?  Você que está ouvindo essa mensagem, contamos com a sua ajuda, você é nossa ultima esperança, nos encontramos atualmente em setembro de 2013, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, Fomos sitiados por um novo tipo de vírus, o qual chamamos de “corrupção”, ele se alastrou tão rápido que em algumas horas o país inteiro estava infectado, não conseguimos fazer nada para impedir, fomos atingidos em todos os níveis da nossa sociedade, dos ricos empresários até os pobres moradores de rua, dos grandes intelectuais aos analfabetos , o vírus não fez distinção. Por sorte ou interferência divina alguns indivíduos conseguiram se proteger e não foram infectados, outros simplesmente se mostraram imunes a esse vírus. Ao grupo de sobreviventes foi dado o nome de RESISTÊNCIA. Aos infectados demos o nome de “políticos” e assim a guerra teve inicio.
                No começo nossa missão consistia na busca por novos sobreviventes para integrar a Resistência. Nesse tempo, o vírus percebendo a potencial ameaça que éramos, entrou em processo de mutação, criando assim um novo vírus que só afetava os “Políticos”, denominamos essa nova fase do vírus de “impunidade”, essa mutação tornava-os mais fortes, mais rápidos e parece que tirava qualquer sensação de medo que eles pudessem ter. Eram verdadeiros animais. Percebemos então, que teríamos que combatê-los, nas ruas, nas casas, nos hospitais, nos mercados, em todos os lugares ou seriamos exterminados. Nas primeiras batalhas conseguimos pressionar os políticos de forma que eles não esperavam, ficamos deslumbrados com o nosso próprio potencial, achávamos que colocaríamos um fim nessa epidemia, Foi um erro...
                O vírus ao se ver tão pressionado, entrou novamente em mutação, gerando um novo estágio viral, ao qual chamamos de “insensibilidade”, Essa nova fase foi feita especificamente para infectar aos sobreviventes da resistência que eram imunes as duas formas anteriores do vírus ou tinham se protegido da epidemia. Tivemos incontáveis perdas, muitos dos irmãos foram infectados, dentre os sintomas mais presentes eram: Apatia, perda da comunicação e perda da capacidade da solidariedade com o sofrimento do próximo. Juramos que vingaríamos todos os irmãos infectados.
                Apesar das perdas continuamos a nos organizar, nos dividimos em pequenos grupos que freqüentavam reuniões semanais, dentro de salas pequenas e escuras em prédios velhos. Aos membros da resistência que freqüentavam essas reuniões decidimos chamá-los de estudantes, eles eram responsáveis por passar as informações a todos os outros sobreviventes que não poderiam comparecer as reuniões. Mudávamos semanalmente o lugar de nossos encontros, aos quais apelidamos de universidades. Infelizmente os políticos descobriram nossas reuniões e infectaram algumas universidades assim como seus estudantes, quebrando a nossa rede de comunicação.  Estamos praticamente sem comunicação com a maioria dos sobreviventes, o que nos torna pequenos focos de resistência espalhados pela cidade.

                Por isso estou aqui lhe pedindo ajuda, durante uma de nossas reuniões descobri um antigo livro, que contava a historia de uma epidemia anterior a nossa e que foi muito pior, era chamada de “ditadura de 64”, nossos antepassados lutaram bravamente nessa época remota para erradicar tal peste, e com tudo contra eles, correndo riscos piores que os nossos, eles conseguiram vencer. Irmão não deixa que a nossa luta e a de nossos ancestrais morra assim, passe essa informação a todos os sobreviventes que encontrar, você que não foi infectado ou é imune ao vírus é a nossa principal arma. Faça a diferença, seja honesto, justo, solidário, lute pelos seus direitos, seja um bom médico, um bom advogado, um bom policial, um bom político, um bom pai, um bom irmão, um bom filho, uma boa esposa, um bom cidadão, mas antes de tudo seja um bom SER HUMANO. Lembre-se você é a NOSSA ULTIMA ESPERANÇA. Cambio e desligo. 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O tempo



O tempo é indiferente, não importa o quanto você amou um momento do seu passado, ele jamais voltará. Não importa o quanto você deseja o futuro, ele ainda não nasceu e não correrá para os seus braços. Não importa o quanto você agarra e segura o presente, precioso ou não, ele não é eterno e simplesmente acabará. O tempo não se importa, o tempo não importa.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Herói


Num tempo muito distante dos dias de hoje, em um lugar mais distante ainda, existia um homem, cuja única função de sua vida era ser um herói. Ele andava de cidade em cidade enfrentando bandidos, assassinos, tiranos e vilões. Não tinha casa, amigos ou família, pois não tinha tempo para tais coisas, dizia que vivia apenas para a justiça e para acabar com o mal no mundo. Um dia, viajando sozinho por uma estrada, encontrou um velho sentado observando o céu, ele passou devagar perto do ancião, e o velho olhou-o e perguntou: o que desejas homem? E o nosso herói respondeu: nada meu bom velho. E o velho falou: Isso não encontrara aqui, o que desejas homem? O herói então parou e respondeu; desejo acabar com o mal do mundo e ser o maior herói já visto, sabes onde o mal se esconde por estas bandas? O velho ficou um momento em silencio e então se pronunciou: O mal se encontra em frente, atrás, dos lados, no céu, na terra, no fundo do oceano e no topo da montanha mais alta, mas o pior mal é aquele que se encontra dentro de ti. O herói se assustou e indignado resmungou: Como assim? O mal dentro de mim? Estas louco velho? Sou apenas justiça e bondade, dediquei a minha vida toda a combater o mal. O velho então pronunciou: Para se tornar herói, deve primeiro derrotar o vilão que reside em você. E o herói respondeu: velho, agora diz que sou um vilão? Não deves conhecer a minha fama. Salvei diversas cidades de tiranos, prendi mais de mil bandidos, protegi os pobres e indefesos. E então o velho se pois a falar: oh! Pobre herói, vejo que sua visão estás encoberta, mal consegues ver alem do que seus olhos mostram, me digas, não és tão egoísta quando o próprio vilão? Não julgou os valores dele diferentes do seu e impôs a sua vontade a dele? Não foi isso que ele fez aos pobres? Não julgou que o seu prazer era mais certo que o dele e o derrotou e prendeu? Não foi isso que ele fez com os indefesos? Não usou da sua força para puni-lo? Não foi o que o tirano fez ao povo? Não sentiu raiva dele ao ver suas ações? Não foi isso que ele sentiu em relação a você? Herói como é frágil a linha que separas o bem e o mal, o que em outras épocas era errado hoje já não é certo? E com tantas verdades em formas de perguntas o herói ficou pasmo, mal conseguia manter-se em pé. Sentou-se ao lado do velho e refletiu sobre o que tinha ouvido. A noite ia chegando e o herói perguntou ao velho: o que devo fazer para derrotar esse vilão traiçoeiro, que mora em mim e que mesmo escondido ainda estava tão presente e eu não o vi? O velho levantou e disse: não sei meu jovem, sou apenas um velho e não um herói, e o velho foi andando em direção ao final da estrada ate os olhos do herói não mais enxergá-lo. O herói ficou imóvel, sentado na pedra pensando em tudo que o velho tinha lhe falado e como iria derrotar o seu maior vilão. Ele ficou tanto tempo parado pensado que ao amanhecer ele tinha se transformado numa pedra em forma de homem. Dizem que ate hoje naquela estrada, pode se ver a pedra em forma de homem e que se vocês prestarem atenção um minuto, poderão ouvir junto ao vento o barulho de espadas e alguém gritando: Eu me derrotarei e assim venci.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A vida a morte e o tempo



            Um dia a vida e a morte caminhavam juntas, a vida por sua vez decidiu correr pelos campos sem direção, livre como uma criança, subiu nas árvores, nadou nos rios, sentiu a terra como se fosse dela, brincava com os humanos e com os animais. E a morte apenas a observava de longe. A vida por sua vez gritava: morte não me acompanharás? E a morte respondia: não vida, tu és tão inconseqüente e egoísta quanto uma criança, enquanto corrias pelos campos pisastes nas mais bonitas flores, esmagou os mais úteis insetos. Quando pulastes no rio, jogaste para fora dele todos os peixes, nadaste no sentido contrario e o desviaste de seu curso. Ao brincar com os humanos e seus sentimentos, os colocou uns contra os outros, fez perderem a razão, os valores, a tradição e a honra. Entrou no meio deles sem ser convidada, brincou e os manipulou. Quando se cansou deles, os deixou tão rápido e repentino quanto uma brisa numa manha quente de verão. Fez eles se entregarem aos prazeres das coisas fúteis e efêmeras. Pelas suas brincadeiras, não sabem a importância da vida, e por sua vez valorizá-la. E a vida gritava de volta: Quem liga? O importante é viver! Parece ate que  você nunca viveu!
 E a morte, complacente com o sofrimento daqueles que se perdiam nos caprichos da vida, encobria-se de ceifá-los, pois não via outra solução para os pobres coitados. A morte exclamava: ó vida, como és cruel, por que faz isto com eles? Não vê que você os machuca, manipula e os ilude? O que ganhas com isso? A vida respondia com um sorriso na cara: faço porque quero, é divertido e assim faço, não há um sentido. E a vida rolava no chão de tanto rir das perguntas da morte. E a morte inconformada só podia tirar dos braços da vida os seres que ela brincava. Longe dali sem ambos saberem, um velho chamado tempo observa os dois e pensava: Como são bobos os dois, a vida é uma criança que só liga para suas vontades, chega sem ser convidada, joga tudo pro alto, mexe com tudo e com todos e quando se cansa vai embora sem avisar ou pedir desculpas. Ah! A morte... Julga-se tão ponderada, mas não consegues fazer nada para impedir as atitudes impensadas da vida, julgas suas ações como boas, mas impõe a sua vontade do modo que queres, não conseguindo ver que causas mais sofrimento do que alivio para os homens, assim como a vida. E eu sou apenas o tempo, um velho que se arrasta e observa a todos pela eternidade, resta-me apenas sentar e esperar que um dia, eles possam ver que o tempo supera tudo. E que a vida e a morte nada são perante a eternidade.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O artista




Ele foi o artista mais talentoso que conheci, durante anos, interpretou constantemente e incansavelmente um único papel, dedicou a sua vida a seu personagem. Usou de todos os truques que os maiores artistas já inventaram. Ele se embriagou, fantasiou e dissimulou. Quando estava triste, não se permitia chorar, empunhava a sua mascara e a colocava em seu rosto, em seu corpo e ate mesmo em seu coração, E assim alegrava todos a sua volta, a platéia jurava , que a felicidade repousava em sua alma, mas o que eles sabiam do grande artista? Quando lhe perguntavam como estava à vida, ele sentia vontade de desabar, de dormir e não mais acordar, e então ele mentia, contava historias de como sua vida era boa e que seria impossível ter uma vida melhor. E ele atuou, atuou e atuou... Tanto, que não sabia mais viver sem aquele personagem. Ah! Mas a que custo ele mantinha aquilo, o preço era tão alto... Como ele não queria ser nada daquilo, como ele queria ser como os outros e chorar quando estivesse triste, reclamar da vida que não era boa, cometer os mesmos erros bobos que todos cometem dia após dia, ele só queria ser normal, Mas ele não podia... Todos o conheciam por aquele personagem, e ele como um bom artista não podia decepcionar seu público. Mas ele tinha medo... Medo de descobrirem sua atuação, medo do que o seu público falaria dele, e então quando achou que não mais suportaria , voltou os olhos para dentro de si e perguntou: quem é esse que furto o rosto todo dia e ponho sobre o meu? E ele gritou bem alto para cada abismo e montanha da sua alma ouvir: Quem é este ser que vive em mim e não sou eu? E de repente, ele se deu conta de que era um artista, e que interpretava a peça da sua vida num teatro sem cor, para uma platéia de cegos que não podiam notar a diferença do amor e da dor. E então o grande artista refletiu: de que me vale a opinião de uma platéia senil sobre a efêmera peça da minha vida?

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Hóspede indesejado

A tristeza bateu na porta do meu coração, abri e deixei-a entrar, e logo ela se instalou, mas como poderia negar? O amor que antes vivia, há muito tempo se foi, viajou sem destino certo e nunca mais voltou. Agora que a tristeza reside em minha morada, como abrir mão da única coisa que me restou? Eu me pergunto, quando foi que de um simples visitante ela virou hospede em minha casa? Penso melhor e não consigo lembrar em que momento ela veio me visitar, quem abriu a porta senão eu?  Mas quando abri esta porta?  Parece que ela sempre esteve lá. Ah! O amor, quando foi mesmo que me abandonaste?  Saíste porta a fora decidido que aqui não mais residiria, que não mais me visitaria, que não mais existiria... Mas quando exatamente isso aconteceu? Sinto como se fosse eu que o tivesse mandado embora, mas por que eu faria isso? Eu amava tanto o meu amor... Tristeza sai já daqui, pois não me pertences mais e muito menos eu a ti, mas a tristeza continua aqui, por quê? Às vezes penso que estou sozinho, mas a minha tristeza não me deixa só, faz questão de me lembrar que comigo esteve, estás e estarás. Que Companhia indesejada que eu não consigo me livrar. Oh amor por onde andarás? Que caminhos têm tomado? Que escolhas tem feito? E então eu lembro, que foi o amor que me machucou e que fui eu que o machuquei, que ele me abandonou e que eu o abandonei. Lembro que quando eu estive sozinho, foi a tristeza que me amparou, segurou-me forte e então gritou : estás morto o sentimento pelo qual zelou.